Estranhos: Medo Sombrio
Capítulo – 03
Naquele momento tudo que senti há minutos atrás desapareceu, as dores, o mal estar e o medo. O Henrique estava em pé parado, um olhar distante... Eu estava sentado e encostado em uma árvore, ficamos em silêncio durante um tempo. Parecia loucura estar ali com o cara que eu tinha medo, com ele que rondava minha casa durante esses dias que cheguei aqui, eu tinha que correr e não ficar sentado esperando ele falar alguma coisa. Será que ele é confiável a ponto de ficarmos sozinhos? Eu estava diante de descobrir uma pergunta que me torturava dês do dia que cheguei e o vi olhando para mim encostado naquela árvore. −O que ele queria comigo?
− Acho que me precipitei, mas não importa. Ele pareceu confuso.
− O que você quer comigo?
− Você não acha estranho, as coisas que aconteceram com você, imagens, medos, perguntas e perguntas?
− O que você quer dizer com isso? Eu ainda estava confuso, como sabia de coisas que eu sentia?
− Ben, olha nos meus olhos.
Olhei para seus olhos e sua pupila delatou-se escondendo o branco dos olhos e em segundos o dia virou noite, eu estava em um pântano, o nevoeiro começou a surgi e não consegui ver nada que havia em minha frente, andei colocando as mãos para frente procurando não bater nas árvores, percebi vultos, mas eram muito rápidos e um medo desconhecido começou a surgir, ouvi gritos e virava de um lado para o outro a procura de onde vinham os sons, comecei a correr desesperado a procura de uma luz, de uma saída, parecia um daqueles pesadelos onde você faria de tudo para acordar, mas não conseguia, parei de correr e o nevoeiro desapareceu, vi um lago a minha frente e caminhei em direção a ele e me arrependi de ter feito isso, havia cinco corpos, quatro garotos e uma garota todos aparentavam ter seus 16, 17 anos. Uma ventania começou, as águas do lago começaram a formar redemoinhos pequenos e grandes e em seguida o lago estava todo congelado. – Impossível. Gritei. Ouvi estalos como se as árvores estivessem caindo, virei rapidamente e estavam pegando fogo, caindo uma por uma, como era possível? De repente alguém me empurrou e cai de joelhos, puxou meu cabelo e bateu minha cabeça no lago congelado, uma, duas três vezes senti o sangue escorrer pelo meu rosto. Por que não conseguia gritar, nem me defender. O estranho deu um murro no gelo, quebrando uma parte.
− O que você quer aqui? Perguntou, mas eu não conseguia responder, ele colocou minha cabeça na água tentando me afogar, aquilo era agonizante ele tirava e colocava minha cabeça na água, várias e várias vezes. – O que você quer aqui!
− Eu não sei! Consigo gritar. Ele então, me vira e enfia sua mão do lado esquerdo do peito, arranca meu coração e me joga no lago que agora não está mais congelado e então fico boiando junto com os outros corpos desconhecidos.
Abro os olhos e não consigo distinguir aquele pesadelo, foi tudo tão real, macabro e não sabia mais em que pensar. O pântano, o lago e os cinco corpos, aquilo pareceu tão surreal, o garoto estranho que não conseguir ver seu rosto, olho para o Henrique e ele sorri, será que ele era o garoto que arrancou meu coração e me jogou no lago? Eu estava correndo perigo?
− Gostou do que viu? Pergunta ironicamente.
− O que você fez comigo? Eu quase grito.
− É isso que queria te contar Ben. Ele me observa e continua. – Existem pessoas anormais em nosso mundo, com poderes sobrenaturais e isso que acabou de ver, fui eu que causei essa ilusão.
− Está me dizendo que foi você que causou esse pesadelo? Eu estava incrédulo.
− Sim, não só esse pesadelo, como os medos que você sentiu a dor de cabeça, tudo. Ele deu uma pausa olhando para mim. – Aquilo que você sentiu na parada do ônibus, também fui eu que provoquei.
− Por que fez isso? Eu te fiz alguma coisa! Como alguém poderia ser tão cruel com uma pessoa, só alguém sem coração para fazer isso, ver o mal, dor, medo de um ser humano e gostar desta sensação.
− Eu pensava que você era igual a mim. Ele parecia sentir culpa pelo que fez.
− Igual a você? Está louco! Eu estava ficando louco ou o quê, isso era impossível.
− Ben, me desculpa. Como disse eu me precipitei, mas é que você está perto do seu décimo sétimo aniversário e vai se tornar um de nós. Ele me encarou.
− O quê! Eu vou ser igual a você? Como assim?
− Ben, você é filho de um dos 27 guardiões da terra.
− Henrique! Que brincadeira sem graça é essa? Que loucura era essa, de me tornar um anormal aos 17 anos, mas isso que ele acabara de me fazer ver, esse pesadelo sombrio era com certeza sobrenatural e uma pessoa normal nunca faria isso e odiava admitir que ele esta falando a verdade.
− Você quer ou não saber da verdade? Ele ainda me encarava.
− Sim. Foi apenas o que consegui dizer.
− Em 1143, a terra estava ameaçada por guardiões sombrios que tinham armas poderosas que poderiam destruir o mundo, não se sabe como eles conseguiram aquelas armas, mas esses guardiões matavam as pessoas por prazer, grupos de amigos que saiam e encontravam esses guardiões eram torturados e mortos e milhões de pessoas morreram assim de modo agonizante, as pessoas evitavam sair de casa e quando saiam, tinham a certeza de que poderiam não voltar mais. Ele deu uma pausa e continuou. −Muitas morriam de fome, sede e doenças por não ir ao hospital ou comprar medicamentos, foi um ano de muita dor e sofrimento. Pessoas se matavam ou matavam inocentes pensando que eram guardiões sombrios. Pude ver em seus olhos a angustia dele em falar aquilo.
− Só que neste mesmo ano 27 jovens de toda a terra completavam 17 anos no mesmo dia, mesma hora, mesmo minuto e mesmo segundo, e estes 27 jovens foram possuídos por poderes sobrenaturais, e foi dada uma missão a eles. – Reunirem os 27 em um mesmo lugar. Lá eles aprenderam a usar seus poderes de fogo, água, vento, gelo, terra, agilidade, tele transporte, choque e vários outros. Treinavam dia à noite, escondidos dos guardiões que havia por toda a terra, eles procuravam lugares onde jamais os guardiões achariam e pântanos em época de nevoeiros eram um dos melhores lugares, pois podiam se esconder e eles nunca achariam. Nestes esconderijos eles aprendiam ataques e defesas em grupo, lutavam entre si para se aperfeiçoar. Em 1144 eles decidiram dar um basta nessas mortes e se separaram em grupos, mandando cada grupo pra um continente para lutar e matar todos os guardiões sombrios. A união deles fez com que nenhum morresse, destruindo todos os guardiões sombrios que havia na terra, uns se rederam outros se mataram e assim os 27 guardiões conseguiram colocar paz na terra outra vez. – Mas os humanos normais nunca souberam quem eram os guardiões e como conseguiram isso. Os 27 jovens prometeram que nunca um humano saberia a verdade sobre eles e viveriam como humanos normais, mas se houvesse algo novamente como o ocorrido eles voltavam a se reunir e protegeriam a terra até a morte. – Só que o que eles não sabiam era que seus filhos nasceriam com o legado deles e com um pequeno detalhe quando completassem 17 anos o poder do pai passaria para o filho, não o mesmo poder, mas outro desconhecido. E os filhos deveriam seguir o legado que foi dado naquele ano de 1143 protegerem a terra e ser um dos 27 guardiões. – Só que não foi tão simples, havia uns guardiões egoístas que não queriam perder o poder e não tinham filhos ou matavam seus próprios filhos quando sabiam do legado, mas quando morriam seu poder era passado para a criança mais próxima de onde ele estava que nascesse na mesma hora, minuto e segundo que o Guardião morria. E assim décadas e séculos se passaram e aqui estamos nós os novos guardiões da terra.
− Então eu sou um futuro guardião da terra. Aquilo parecia mais um filme de terror ou aventura e eu estava nele e não sabia mais de nada sobre toda minha falsa existência até agora. Diante do que acabara de escutar eu serei um garoto com 17 anos tendo habilidades sobrenaturais, onde teria o “legado” de proteger a terra até a morte.
− Isso, e eu estou aqui para te ajudar Ben e tirar todas as suas duvidas.
− Henrique, então quer dizer que o meu pai...
− Não! O seu pai de “poder” morreu.
− Por isso eu não sabia de nada até agora certo?
− Pode se disser que sim, muitos dos pais guardiões esperavam o filho possuir o poder para contar toda a história e o legado. Outros morriam antes de seus filhos completarem 17 anos, então quando eles chegavam ao seu décimo sétimo aniversário, outros guardiões vinham a sua procura e contavam tudo, era mais difícil uns entendiam outros não...
− Vocês sabem quem são os filhos dos guardiões? Eu o interrompi.
− Sim e não. Ele suspirou e continuou. – Quando um de nós usa o poder, e existe um guardião naquele lugar, ele vai saber que existe outro guardião e vai atrás e tenta descobrir quem é. Não é difícil descobrir por que nós tentamos nos esconder, agirmos de maneira diferente dos outros, tentamos decifrar as pessoas, procuramos defeitos anormais onde um ser humano normal não faria isso, então quando desconfiamos de uma pessoa vamos lá e usamos nosso poder de controlar a mente, mostrando coisas em sua mente, se conseguir a pessoa é humana se não, ela é uma de nós. – Com os filhos dos guardiões que ainda não são, sentimos a presença no meio de várias pessoas, como você, eu senti que você havia chegado à cidade e fui a sua procura, só que deduzi que era você quando fui impedido de causar dor e medo durante o tempo que queria isto só acontece com os filhos que ainda não possuíram o legado. Eles são... Ele deu uma pausa gesticulou com os dedos aspas. – “Protegidos.”
− Então, você pode fazer isso de controlar a mente durante o tempo que queria? Inacreditável.
− Sim.
− Existem mais guardiões aqui em Orlando? Por mais que não quisesse ser um guardião precisava saber se existem mais nesta cidade, só por precaução.
− Sim, e eu queria saber isso de você. Ele pareceu decepcionado.
− Como assim Henrique? Até agora os únicos estranhos que conheci era ele e o grupo estranho da sala, mas o único que havia me perseguido tinha sido o maluco do Henrique e eu estava diante dele neste exato momento, então não sabia quem mais poderia ser um anormal.
− Quando resolvi te torturar sua mente na parada, achava que você sabia dos guardiões da terra, então deduzi que pegaria o mais fraco onde eu poderia descobrir quem são os outros. Por isso disse que tinha me precipitado.
− Mas você não tem idéia de quem seja? Se ele me achou, então poderia achar os outros.
− Ben, não existe só um guardião aqui em Orlando. Existem sete.
− Sete guardiões aqui! Não acredito! Eu estava rondado por sete jovens iguais ao Henrique, nossa!
− Por isso nós estamos aqui, para saber quem são e por que estão os sente em um mesmo lugar.
− Você disse... “Nós,” nós quem? Eu estava numa cidade que haviam oito guardiões, quer dizer que o nós dele se referia a mais guardiões em Orlando?
− Eu, Ana e Thiago, eles também são guardiões.
− Dez guardiões em um só lugar. Interessante. Eu não sabia o que pensar, falar ou fazer. O crepúsculo começou e eu teria que ir pra casa antes do meu pai chegar, mas eu tinha mais perguntas, só que naquele momento já estava de bom tamanho o que acabara de escutar.
− Desculpa por tudo que fiz, é serio. Henrique pareceu verdadeiro.
− Está desculpado, mas prometa que não mais vai fazer isso. Eu o encarei.
− Prometo, mas quero que sejamos amigos. Ele deu uma pausa longa. – Amizade é uma palavra nova para mim, então colegas e que eu possa te ajudar no que você precisar. Ele sorriu.
− Amigos ou colegas, temos muito que conversar até que meu décimo sétimo aniversário chegue. Aquilo que tinha acabado de dizer não concordou muito com meus pensamentos, eu não queria ser um guardião e isso não podia deixar claro agora, só depois de saber mais coisas sobre esse tal legado.
− Posso passar na sua casa amanhã, para irmos juntos à escola? Ele mordeu os lábios.
− Sete da manhã, não se atrase. Sorri e fomos até a parada esperar um táxi.
Assim que cheguei, Elide me esperava sentada no sofá.
− Desculpa a demora. Falei.
− Eu estava esperando você chegar para ir, quase liguei para seu pai. Eu fiz uma careta. – Mas achei que estivesse fazendo algum trabalho escolar. Ela sorriu.
− Isso, eu estava fazendo um trabalho, Obrigado. Ufa!
− O jantar está pronto é só esquentar. Ela sorriu. – Até amanhã e coloquei o despertador para você não perder a hora outra vez.
− Obrigado de novo e até amanhã. Sorri e subi as escadas.
Tomei um banho e fui direto para a cama, fiquei pensando em tudo que acontecera hoje, como era possível tudo aquilo ser verdade. Poderes sobrenaturais, 27 guardiões da terra e dez deles aqui em Orlando, eu prestes a virar um deles e não quero isso para mim ou quero? Meu pai de “poder” morreu e meu pai de sangue não sabe que o filho dele esta prestes a se tornar um guardião, meu pai e único melhor amigo, não posso contar nada para ele, por que sei que ia me chamar de doido ou iria ri da minha cara. Kaique e Liza meus novos amigos, o que diriam se eu falasse que era um guardião da terra e teria poderes sobrenaturais aos 17 anos. Os medos que tinha desapareceram, mas as dúvidas continuavam a martelar minha mente. Como será amanhã quando acordar? Será que vou pirar? Como será daqui a quatro meses quando fizer meu décimo sétimo aniversário? Queria que tudo isso fosse apenas um sonho, mas sei que não é.
Acordei com o despertador que Elide colocara, eu pegara no sono pesado pela primeira vez desde que cheguei aqui. Sem insônia, sem medos e sem estranhos para tirar meu sono. Levantei da cama disposto e fui tomar um banho. Senti que estava “morto de fome,” também não havia comigo nada ontem, alias nem senti fome, depois de tudo aquilo como sentiria? Quando desci já pronto com minha mochila, meu pai estava na mesa tomando café.
− Bom dia Pai. Sorri.
− Bom dia, pela primeira vez vi que dormi bem não foi? Ele me observou.
− Sim, que noite. Dei uma pausa e peguei um copo. – Ontem cheguei, tomei um banho e cama.
− Chegou tarde ontem? Teria que me explicar então nada melhor do que falar uma mentirinha, se não lá viriam os interrogatórios.
− Estava fazendo um trabalho, com uns colegas. Tinha que concretizar minha mentira de ontem.
− Então o colégio está bem não é.
− Está sim, hoje vou com um colega para o colégio. É apesar de tudo que acontecera ontem eu estava vivo, mas ainda pensativo sobre ter um “pai de poder” e ser um guardião que nem sei se quero isso para mim.
− Que bom que fez amigos Ben.
− Essa hora teria que chegar não é. Coloquei o suco no copo, tomei um pouco e peguei uma torrada.
− O que acha de sairmos esse fim de semana? Ele pareceu empolgado.
− Sair, acho uma boa ideia. Seria ótimo me distrair este fim de semana, nunca tive uma semana de tantos mistérios em minha existência, nada melhor do que estar com meu pai e esquecer-se de tudo o que acontecera até agora.
− Estava pensando em irmos num festival que vai ter aqui perto. Peguei outras duas torradas e ele riu consigo mesmo.
− Festival de que? Eu estava por fora de tudo que acontecia aqui.
− É uma celebração que ocorre todos os anos, de poderes místicos. Nunca tinha ouvido falar sobre isso, só em livros ou em filmes de terror, mas Orlando ter essas tradições é novidade para mim.
− Poderes místicos? Mais coisas bizarras por aqui, por favor, não!
− Bruxaria melhor dizer. Ele parecia gostar disso, e lá se vem mais poderes do além.
− Nossa que fim de semana legal. Fui irônico.
− Ben, Vai ser divertido. Ele tomou o resto do suco que havia no copo e continuou. – Melhor que ficar em casa, eu acho.
− Então combinado! Falei, se ele se sentia bem por que não ir? Apesar de minha vida esta de cabeça para baixo, era melhor sair mesmo.
− Você vai gostar, tenho certeza. A campainha tocou.
− Pai, tenho que ir. Olhei o relógio sete horas em ponto, tomei o resto do suco e peguei mais uma torrada. – Até mais tarde e boa aula Ben.
−Tchau. Abri a porta e lá estava meu novo colega Henrique.
− Oi Ben, Dormiu bem? Ele sorriu.
− Melhor noite até agora, sem estranhos para me estressar. Sorri e dei uma tapa na suas costas. – Vamos?
− Vamos. Ele me entregou um capacete.
− Não sabia que tinha uma moto. Eu não sabia de muitas coisas.
− Você não sabia que era um guardião, agora sabe!
− Pois é. Nós sorrimos ao mesmo tempo.
− Então, tem pelo menos um milhão de perguntas?
− Acho que não, estou tentando levar uma vida normal até dezembro.
− Acho difícil, mas você que sabe. Subi na garupa da moto e seguimos ao Preparatório High School.
A moto não corria e sim voava, ele dava cursas que parecia que íamos cair da moto, que ele era louco agora tinha certeza, mas estar com ele era legal, como se eu o conhecesse a tempo. Quando chegamos ao colégio, desci da moto e alguns alunos olhavam. Isto é novidade e todos aqui gostavam disso, motivos para comentarem o dia todo. “Os dois novatos que chegaram juntos.”
− Que jovens curiosos. Comentou Henrique.
− Você fala como se não fosse o mais curioso de todos. Ri comigo mesmo.
− Só um pouco, faz parte não é. Rimos, e olhei para o lado e Liza e Kah me olharam. Pensei em como explicar para meus amigos que o garoto que ficava o tempo todo me encarando é meu novo amigo, que mudança. Balancei a cabeça e segui junto com Henrique até a sala.
− No intervalo, vê se não foge quero te apresentar Ana. Falou antes que entrássemos na sala.
− Certo, pode deixar, estou ansioso para conhecer mais um guardião. Menti, eu não estava muito certo de que queria isso para mim, então não poderia demonstrar isso para ele. Entramos na sala e colocamos os capacetes em uma estante que havia perto da mesa do professor. Acenei para os estranhos e fui falar com Liza e Kah.
− Oi Pessoal. Coloquei minha mochila do lado da Liza. – Hoje a aula vai ser ótima, não acham? Falei apontando para o professor de Física.
− Oi Ben, novo amiginho? Falou Kaique num tom irônico.
− Quase isso, colega melhor dizer. Liza sorri. – Ele é bem legal. Tirando a parte de controlar a mente das pessoas e ser um guardião da terra, ri comigo mesmo. O Kaique me encarou confuso.
− Ben, pode se sentar. Falou o meu querido professor de física.
A aula foi um tédio, mas pude entender o que ele falava, assuntos sobre eletricidade. Olhei de lado e o Henrique estava olhando, ele falou algo que pude entender. “Que aula chata.” Balancei a cabeça concordando. Nós sorrimos. Virei e o Kaique me olhava incrédulo, como se tivesse tentando desvendar algo. Depois que o professor saiu tivemos um dissimulado de história sobre a guerra fria e quem terminasse poderia ir para o pátio, não demorei a entregar e sai para o pátio.
− Você é rápido não é. Virei e vi que era a July.
− Estava fácil, você também acabou rápido. Dei um sorriso tímido.
− É, estava mesmo. Ela sorri. – Quando é que você vai passar um tempo aqui no colégio comigo e com meus amigos?
− Passar um tempo?
− Conversarmos um pouco, para nos conhecermos melhor. Ela abriu aquele lindo sorriso que me encantava.
− Você hipnotiza todos com esse sorriso? Acho que estava vermelho.
− Obrigada. Ela sorriu timidamente.
− Amanhã eu passo o intervalo todo com vocês, ai nos conhecemos melhor. Estava na hora de conhecer todos os estranhos, quem sabe eles não me contariam o que tanto fazem naquele pântano. E depois que o Henrique me mostrou aquele lado sombrio do pântano, não quero ir lá nem tão cedo.
− Então combinado, vou cobrar viu.
− Pode cobrar que cumpro rapidinho. Nós rimos.
− Tom! Disse July olhando para entrada do pátio e acenando para que ele viesse. – Não liga se ele for um pouco chato, acho que é da natureza dele. Ela olhou para mim e voltou a olhar o Tom.
− Oi. Falou quando chegou até nós.
− Oi Tom. Fui simpático.
− O professor de física piora a cada aula. Falou me ignorando.
− Também acho, ele já deveria ter se aposentado. Comentou July.
− Ele ensina aqui faz tempo? Perguntei querendo puxar assunto.
− Acho que mais de dez décadas. Disse July sorrindo.
− O que vocês fazem nas horas vagas? As palavras saíram sem que eu pensasse.
− Vamos ao pântano, conhece? Disse Tom me encarando, o olhar dele era como se quisesse desvendar algo.
− Tom? A voz da July era de reprovação.
− Não, mas já ouvi falar. Dei uma pausa. – Dizem que lá é cheio de nevoeiros nesta época, e que já encontraram cinco corpos no lago. Eu não sei por que não ficava calado, mais meu instinto me mandava falar mais e mais, era como se eu estivesse agindo como um guardião a procura de outro.
− Foi bem informado, mas deveria ir um dia desses para tirar suas próprias conclusões, aposto que não ia se arrepender. Ele falava num tom cauteloso.
− Com certeza irei. Olhei para ele e percebi que seus olhos começaram a ficar todo preto, virei rapidamente e vi o Kaique.
− O que foi? Perguntou Tom.
− Tom, para com isso! Falou July.
− Tenho que ir. Levantei e fui em direção do Kah, ele parecia que procurava alguém até que encontrou meu olhar.
− Bem, precisamos conversar. Ele parecia nervoso ao olhar para Tom e July.
− Aconteceu algo estranho com o Tom, que acho que reconheço, mas deixa isso para lá você não vai entender. Aquele olhar, seus olhos querendo desvendar algo... Tinha que falar com Henrique agora.
− Ben, você não pode andar com o Henrique! O Kah segurou meu braço.
− Kaique me solta! Puxei meu braço com força. – Quem você pensa que é para dizer com quem devo ou não andar.
− Ele não é uma boa pessoa, assim como os estranhos. Ele quer te usar. Sua voz havia mudado.
− O que você está falando, me usar? Eu agora não estava entendendo nada.
− Eles querem saber que poder você terá se forem bom eles vão querer você, se não, te chutam assim como fizeram comigo!
− Poder? Como você...
− Eu sou um dos Guardiões Ben.
− O quê? Como assim? Isso é loucura, Kaique ser um guardião.
− Não é loucura eu ser um guardião. Falou Kah como se tivesse repetindo o que eu tinha pensado.
− Repeti sim, por que eu consigo ler mentes. E em segundos caiu a fixa, ele é um dos sete guardiões que o Henrique havia dito, mas como era possível eu só me ligar aos guardiões. Tom tinha algo familiar com o olhar do Henrique quando me fizera ter aquele pesadelo, então quer dizer que Tom também era um guardião? − Sim ele é um guardião. Disse Kah.
Já imaginou todos os seus segredos expostos na mente de alguém, aquilo que você mais tenta esconder de todos solto na mente de outra pessoa, atitudes que queira tomar, sonhos e pesadelos, tudo sobre você expostos a outra pessoa. Que mundo é esse! Eu não quero isso para mim, eu não quero ser um guardião, eu não quero nada disso!
−Kaique! Eu não quero isso para mim, eu não quero ser um dos 27 guardiões da terra!
− Então Ben, não queria te falar isso, mas se você não quer ser um guardião... O pesadelo que Henrique te mostrou vai se tornar realidade e você... Morre igual aos cinco guardiões que também não queriam ser um de nós.